domingo, 30 de agosto de 2009

26 de Agosto de 2009

Ovar, Praia do Furadouro


As férias não são os lugares. São as gentes, as mais comuns, as insólitas, as conhecidas lá da terra, as desconhecidas de outras línguas. Não é a praia ou a serra ou a cidade. É quem nos acompanha, quem se cruza por nós, quem trabalha.

Há uma desmistificação do Homem quando analisado durante as suas férias. Há a saúde mental nos seus actos mais anormais. Há o Sol enchendo de vida as vidas. Desaparece o resto.

Aquele resto onde o Sol não se atreve a tocar, onde a música é uma badalada antes da morte, onde os segundos contam rápido e não se esticam com o calor.

Vê, nas tantas pessoas dos tantos lugares: há uma incoerência orquestrada a parecer coerente. E todos se esforçam para isso. Todos lutam para a materialização da sua felicidade.

Olha para mim e vê-me de aparente alegria, suportando o peso de ser a todo o tempo.


Sérgio Santos
Ovar, Praia do Furadouro
26 de Agosto de 2009

24 de Agosto de 2009

Nogueira do Cravo


Viajo à terra dos meus sonhos mais íntimos, à terra das faces queridas e ruas históricas.
Recordo os primeiros anos que descobri o mundo fora das sete paredes do meu quarto e que o partilhei em conversas e vivências que moldaram toda a minha existência. Escadarias, bancos, Rua da Insónia e Árvore 25... os lugares que mudaram, os que já não são. As paisagens que, como a minha, cresceram justamente. O tempo tudo torna em cinza.
Vem a chuva do Verão fortalecer-me na terra onde me plantei em segredo. Vem, atentamente, o Sol às folhas alimentar-me.
Estou feito com a terra que me pariu, numa adolescência feliz a mente formada.
Vento, frio, traz-me o sabor de outras raças e outros tempos. Sente nas minhas mãos a indisciplina que te aprende a falar.
Faz-me, também, vento noutro tempo.


Sérgio Santos
Nogueira do Cravo
24 de Agosto de 2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

10 de Agosto de 2009

Guarda, Covilhã e Penhas da Saúde


Este interior é místico, o meu Portugal mais saboroso e de vista graciosa. As grandes cidade estão desejosas por crescer mais e são já tão velhas.

Da viagem até lá surgem as paisagens mais simpáticas. Um verde vasto, igrejas e capelas altas a cada povoado. São estas as pontes naturais que caem na graça de quem sou. São estas palavras e fotografias que me alimentam de esperança pelo Portugal que não posso esquecer.

Guarda encerra os tantos caminhos antigos. A sua Sé gótica só por fora me encantou. Estava fechada nas portas e no terreno por casas com histórias por contar (ou por saber) e uma praça aberta que de tal contraste me provocou dores. E foi nessa praça que o café se deitou sobre o cigarro. E foi nessa praça que vi, da esplanada, a Sé como vizinha e me recordei do tempo que passava a escrever.

Na Covilhã as gentes e a geografia e a UBI e a força do Sol e a altitude que vive em precipício. De um cidade em tempo tão industrializada restam agora essas paredes a revestir a universidade dos argumentos práticos. As ruas e rotas desta pequena cidade não me fizeram ir longe mas antes pude voar pelos degraus que a escalavam e surgiu a graça da cidade miniatura, das gentes pequenas.

Mas só acima da Covilhã, a 1200 metros de a(l)titude, é que me curei. Um Sanatório em que procurei me encontrar, naquelas Penhas da Saúde. Com a vista surreal de um castelo na sua torre mais alta, com a natureza envolvente das pacíficas margens de Avalon. Tinham saído já os cheiros voluptuosos, as luzes graciosas. Pareciam ter ficado somente os restos mortais do que foi curado, moscas a envolver paredes inteiras com ruídos macabros. Nas fotografias as provas.


Sérgio Santos
São João da Madeira
12 de Agosto de 2009